top of page

Você tem medo do Escuro?

Atualizado: 21 de abr. de 2022


Por Adriano Camargo Monteiro

É importante compreender isto para se libertar das dicotomias absolutas, absurdas e fatalistas, do dogma, do “tabu” e do senso comum: luz e trevas não são os clichês que as massas temerárias e temerosas costumam achar; afinal, vivem de achismos...

A luz não é o bem; a escuridão não é o mal. Não existe o bem absoluto na luz nem o mal absoluto nas sombras. A escuridão nada tem a ver com o Diabo dogmático nem com o mal cinzento que assola o mundo, esse mal global que faz parte dos produtos midiáticos que as pessoas “compram” com audiência e assiduidade. Mas há (des) gosto para tudo... O mal do mundo é pura e simplesmente o mal das pessoas, criado por pessoas, disseminado por pessoas e “usufruído” por pessoas que adoram esse grande circo de aberração chamado “civilização”. Além disso, o mal pode ser algo um tanto relativo. Enfim, isso é o que se apresenta...


A escuridão está muito além do bem e do mal dos seres humanos. A escuridão representa aquilo que está oculto, significa mesmo o próprio Oculto, o Mistério, aquilo que é “proibido”, que é secreto, escondido como um tesouro a ser descoberto. Não existe malignidade alguma nisso. Assim, a iniciação (psicoespiritual) das trevas é a mais importante, pois o Mistério das Sombras é o mais secreto. Nas sombras, o iniciado se recolhe para desvendar tudo o que está oculto, para acessar conhecimentos “proibidos” profundos. Nesse sentido, luz significa consciência, e trevas significa subconsciência, o repositório de todo conhecimento oculto, esquecido e abandonado pela Luz, ou seja, pela consciência ordinária, de vigília, pela personalidade que se manifesta no dia a dia. No plano mundano global, vulgar e banal das coisas, luz é a ignorância que se vê e trevas, a ignorância inconsciente.

Por meio da introspecção nas sombras interiores, o indivíduo pode então confrontar os elementos mais profundos, “perigosos” e “proibidos” de sua subconsciência (trevas) e trazê-los assim para a consciência ou mente consciente (luz), assimilando os conhecimentos mais secretos de seu Daemon (Eu Superior, Logos Individual, etc.). A luz verdadeira, portanto, é a consciência desenvolvida e expandida após essa imersão nas trevas, é o conhecimento assimilado e consciente, percebido sobre o fundo negro no qual essa luz brilha e pode ser vista.

Pelo que precede, a luz sem as trevas jamais poderia ser percebida. Sem o contraste entre luz e escuridão nada poderia ser visto (ou seja, nada poderia se manifestar). Para que a luz possa se manifestar e iluminar, a escuridão é necessária. Em sentido filosófico e metafísico, luz e trevas, dia e noite, representam manifestação e não-manifestação, consciência e subconsciência, inteligência e imaginação, razão e intuição... Em termos de individualidade humana, luz é atividade, intelecto, mente racional; trevas é inatividade, repouso, introspecção, reflexão intuitiva, imaginação e instintos (quase sempre, elementos negados, rejeitados, reprimidos e menosprezados por imposição dos dogmas e dos preconceitos sociorreligiosos).

Podemos ilustrar essa questão com alguns exemplos: no ser humano, a escuridão é o subconsciente repleto de forças primais que trazem experiências interiores e sabedoria; é o útero psicomental do qual nasce a consciência superior; os seres vivos nascem da escuridão do útero de suas mães e quando “morrem” voltam para as trevas da terra e do submundo (simbológica e mitologicamente falando); os minerais e pedras preciosas se formam na escuridão da terra; as plantas brotam também do interior escuro da terra; o cosmos nasce da escuridão do caos; e as estrelas surgem na matéria escura do espaço e a encrustam com seu brilho visível, porque sem a escuridão elas não poderiam brilhar; e o dia e a noite intercalam-se na manifestação do tempo em nosso mundo, do mesmo modo que a vigília e o sono em nossa vida.

Portanto, as trevas não são o mal (como se conhece), e a luz não é o bem (como equivocadamente o achismo acha). Essa coisa dicotômica não existe, pois a luz e as trevas são gradações que manifestam em toda existência.

Todo aquele que nega e menospreza a escuridão está negando a própria luz que jaz nas profundezas de si mesmo, na caverna escura, que é o abrigo protetor do tesouro, da joia brilhante que é a gnosis, que é a luz do conhecimento, a consciência do Eu Superior.

E, então? Você tem medo do escuro?

14 visualizações0 comentário

Posts Relacionados

Ver tudo
bottom of page