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O que são os Kami?

Atualizado: 12 de mar. de 2022


Uma das maiores barreiras em qualquer tipo de estudo é a linguagem: compreender os ensinamentos e expressar os conceitos elaborados. No estudo magístico, essa barreira se torna um pouco maior devido à linguagem simbólica. E quando estudamos sistemas magísticos oriundos de culturas e países diferentes dos quais estamos inseridos, ficamos à mercê de tradutores que, na maioria das vezes, não possuem a menor compreensão daquilo que estão traduzindo.


Já comentei várias vezes sobre a tradução errada dos Cinco “Elementos” Chineses, que não são elementos, mas movimentos, e que eles não possuem equivalência com os Quatro Elementos Ocidentais. Outra tradução errada que insistem é com a palavra Kami.


A melhor tradução para Kami é a palavra “espírito”, mas isso é uma simplificação de um conceito complexo – o Kami pode ser um elemento da paisagem ou uma força da natureza.


Os Kami estão perto de seres humanos e respondem às suas orações. Eles podem influenciar o curso das forças naturais e os acontecimentos humanos. A crença xintoísta possui diversos conceitos do que seja Kami. Embora estes conceitos estejam intimamente relacionados, eles não são totalmente equivalentes.


Kami pode se referir a um tipo de entidade específica, ou a uma qualidade que outros seres podem desenvolver, isto é, a características particulares a tipo de entidade específica, mas que são encontradas em outros tipos de seres.


Nesse ponto, convém lembrar que a palavra Kami, palavra japonesa, é escrita com o mesmo kanji usado para escrever Shen, palavra chinesa que possui, obviamente, o mesmo significado (espírito), e é usada para designar um dos Três Tesouros da Vida do Tao. Assim, todas as criaturas possuem kami, mas somente aquelas que desenvolvem e demonstram a sua natureza kami de modo destacado é que podem ser referidas como kami.


No entanto, nem todos os Kami são bons. Existem kamis maus, os quais são chamados de Majin. Aqui, adentramos a um ponto nebuloso do conceito de Kami: Kami não é Deus.


Os problemas começaram no início do século XIX, quando iniciaram as traduções da Bíblia para o japonês. Na falta de uma expressão melhor na língua japonesa para expressar o conceito cristão de Deus, os tradutores escolheram a palavra Kami.

Isso causou uma grande confusão até mesmo entre os próprios japoneses: o teólogo xintoísta Kenji Ueda, em 1900, estimou que 65% dos estudantes ingressantes na faculdade de teologia associavam o termo Kami com alguma versão do conceito ocidental de um ser supremo. Se em um século uma tradução mal elaborada da Bíblia Cristã para o japonês causou esse tipo de problema entre os japoneses, o que dirá traduções do hebraico e do grego para outras línguas indo-européias em mais de 2.000 anos?


Os Kamis, como entidades específicas, são frequentemente descritos como seres divinos ou deuses, mas os Kamis não são parecidos com os deuses de outras religiões monoteístas: eles não são onipotentes e não são perfeitos. Eles podem se apresentar como elementos da natureza, como paisagens, montanhas, lagos e oceanos; e como as forças da própria natureza, tais como tempestades e terremotos.


Além desses, os seres humanos que tiveram uma vida notável, repleta de realizações, que desenvolveram seu Shen e alcançaram certa evolução espiritual são chamados de Kami. Os espíritos dos antepassados, cultuados e tratados como protetores da egrégora familiar, também adquirem o “status” de Kami.


A explicação do conceito de Kami está longe de ser esgotada. Já diziam os xintoístas que os seres humanos são incapazes de formar um verdadeiro entendimento de sua natureza. Realmente, torna-se complicado materializar em palavras os conceitos imateriais, e mais complicado ainda traduzi-los de um idioma para o outro e de uma cultura para a outra.


Aoi Kwan


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