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Iniciação

Atualizado: 24 de mar. de 2022



Não dormes sob os ciprestes, Pois não há sono no mundo. O corpo é a sombra das vestes Que encobrem teu ser profundo. Vem a noite, que é a morte, E a sombra acabou sem ser. Vais na noite só recorte, Igual a ti sem querer. Mas na Estalagem do Assombro Tiram-te os Anjos a capa. Segues sem capa no ombro, Com o pouco que te tapa. Então Arcanjos da Estrada Despem-te e deixam-te nu. Não tens vestes, não tens nada: Tens só teu corpo, que és tu. Por fim, na funda caverna, Os Deuses despem-te mais. Teu corpo cessa, alma externa, Mas vês que são teus iguais. A sombra das tuas vestes Ficou entre nós na Sorte. Não estás morto, entre ciprestes. Neófito, não há morte. Fernando Pessoa

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